Os produtores catarinenses de frango estão cautelosos e observam com atenção as movimentações externas em razão do clima de tensão no Oriente Médio. Santa Catarina responde por 27,5% das exportações brasileiras de carne de frango para o Oriente Médio e é referência internacional em qualidade da produção.
O diretor-executivo do Sindicato das Indústrias de Carnes e Derivados de Santa Catarina (Sindicarne) e gerente executivo da Associação Catarinense de Avicultura (Acav), Jorge Luiz de Lima, afirmou que até esta quarta-feira (8) a situação não atrapalhava as vendas de carne à região e que as exportações seguem dentro da normalidade.
Durante a manhã, as principais bolsas e mercados internacionais registraram um dia de nervosismo, com investidores acompanhando os desdobramentos do ataque iraniano contra bases norte-americanas no Iraque.
De acordo com Lima, apesar do momento de tensão ainda não afetar o mercado catarinense, a categoria acompanha de perto a situação e mantém contato com o governo federal. “Não há neste momento nenhum indicativo de impacto em quaisquer negociações ou impossibilidade de embarque dos produtos de Santa Catarina”, disse.
Ele também explica que são analisados reflexos indiretos nas exportações, como a preocupação com o destino da produção. “Especificamente para o Oriente Médio enviamos aves, mas a rota de exportação que passa pela região também carrega carne suína para a Ásia e Europa. O que estamos fazendo é mantermos eventual plano de contingência para possíveis modificações de rotas e mercados, o que não é uma situação fácil de resolver, visto que para a primeira dependemos dos armadores [companhias de navegação] e para o segundo eventuais habilitações de mercados”, disse.
Exportações em 2019 e avaliação
Santa Catarina exportou 378 mil toneladas de carne de frango para os países do Oriente Médio, conforme a delimitação da Secretaria de Comércio Exterior do Ministério da Economia (Secex/ME), o que representa 30% do total exportado pelo estado em 2019. Para o Irã, que também tem relações de importação do produto de Santa Catarina, foram embarcadas 29 toneladas. O levantamento é do boletim agropecuário do Centro de Socioeconomia e Planejamento Agrícola (Epagri/Cepa).
"O Irã sozinho não afeta diretamente as exportações catarinenses de carne de frango. Contudo, um eventual conflito pode envolver outros parceiros comerciais mais importantes do Brasil e de Santa Catarina. Além disso, o maior risco está associado à instabilidade que um eventual conflito pode gerar na região", disse o analista do setor de carnes do órgão, Alexandre Giehl.
“Não é possível, no momento, prever o nível de impacto, já que isso depende da dimensão e duração de um eventual conflito, bem como dos países envolvidos direta e indiretamente. Mesmo que um conflito aberto não venha a ser deflagrado, pode haver algum impacto decorrente de medidas de retaliação do Irã [e outros países aliados], caso o Brasil sinalize de forma mais explícita um alinhamento com os EUA, por exemplo”, avalia Giehl.
A presidente da Câmara de Comércio Exterior da Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc), Maria Teresa Bustamante, também destaca que a exportação de carne de aves e importações de insumos seguem sem impactos imediatos.
“Até esse momento não se tem nenhum sinal concreto de impacto na relação comercial. Tudo vai depender na postura do Brasil diante da evolução do conflito. A observação e a prudência são importantes para este momento, que deve ser observado com uma lente de aumento para podermos também identificar situações de surgimento de possíveis oportunidades”, disse.