Para além de tornar a locomoção no Paraná mais barata, o hiato na cobrança de pedágio no estado, enquanto a nova licitação de concessão das estradas não sai, vai tirar um peso do bolso do setor produtivo do estado. Com as cancelas levantadas, agronegócio (grande pagador do pedágio no estado) e indústria paranaense devem sentir uma economia na casa das centenas de milhões. Dinheiro que voltará para a economia do estado de forma direta ou como investimento, apostam especialistas.
Não há um levantamento definitivo sobre o quanto industriários e produtores rurais do estado, juntos, podem economizar em um ano sem pedágio -- as estimativas é que o novo leilão das estradas do Anel da Integração só ocorra no último trimestre do ano que vem. Ainda assim, dados do setor dão uma pista das cifras envolvidas.
Um estudo de 2018 do sistema Ocepar, que coordena as cooperativas do estado, por exemplo, mostrou que o pedágio paranaense chegava a representar 45,26% do custo do transporte do agronegócio do estado naquele ano. Essa porcentagem elevada correspondia aos R$ 977,60 que um carreto vindo do Oeste do estado em direção ao Porto de Paranaguá pagava. De acordo com esse estudo, mesmo no caso de Ponta Grossa, distante pouco mais de 200 quilômetros de Paranaguá, o peso do pedágio chega a 19,96% do valor do frete.
“O pedágio tem um valor equivalente a 8,3% do custo operacional de produção de um produtor que transporta o milho da região de Foz de Iguaçu para Paranaguá. No caso da soja, esse índice é de 4,9%. Regiões mais distantes de Paranaguá (Oeste e Noroeste do estado) têm grande peso na produção estadual de grãos e são bastante prejudicadas pelos custos com pedágios. Mesmo nas praças mais próximas ao porto, como Ponta Grossa, a tarifa pode ser considerada um valor alto comparado aos custos operacionais de produção”, diz o estudo.
E não é apenas no escoar da safra que o pedágio pesa no bolso do agronegócio do estado. A cobrança é significativa no transporte de insumos para a produção, sobretudo no calcário (transportado da região metropolitana de Curitiba para o interior do estado) e nos fertilizantes (a maior parte vem de fora do Brasil). "No caso do calcário, o pedágio representa forte impacto nos custos do transporte e no seu preço final. Por exemplo, no transporte de uma carga de Almirante Tamandaré para Cascavel ou para Maringá o valor por tonelada é de R$ 14,63 e R$ 10,24, respectivamente, e representam 11,70% e 7,86% nos preços pagos pelo produtor rural. Tomando-se o exemplo de Cascavel, o agricultor paga em média R$ 114,63 por uma tonelada de calcário calcítico a granel, posto na propriedade, o custo efetivo do insumo corresponde a 44% do valor pago, o restante corresponde a frete e pedágio”, aponta o estudo da Ocepar.
“O custo de transporte de fertilizantes também é afetado pelo pedágio. Para o transporte de NPK (05-25-25) de Paranaguá para Cascavel, a tarifa onera em R$ 17,89 por tonelada a carga. No caso de Maringá, o valor é de R$ 13,50 por tonelada. Como o frete para esses municípios custa em média R$ 82,11 e R$ 86,50 por tonelada, o pedágio assume um peso de 21,79% e 15,61%, respectivamente, sobre o valor do frete”, diz a Ocepar.
João Arthur Mohr, gerente de Assuntos Estratégicos da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), diz, no entanto, que embora os valores de pedágio tenham um peso considerável tanto no agronegócio quanto na indústria, essa redução de custo dificilmente será sentida nas pelo consumidor, na hora da compra de produtos.
“Produtos de menor valor agregado, que são mais baratos por quilo, e que tenham que viajar muito são os que mais vão baixar os preços. Por exemplo, cimento. Se fizer uma conta a grosso modo de um caminhão que sai de Rio Branco do Sul [região metropolitanaa de Curitiba] e vai até o Oeste do estado, pode-se ter economia de 3%, que pode ser repassada para o consumidor. A carne de frango, por sua vez, que tem maior valor agregado, vai ter um custo de pedágio menor, que não chega a 1%. No caso de uma indústria automotiva que vai levar os veículos de Curitiba até uma concessionária no Norte do estado, o valor será menor ainda”, exemplifica.
Para ele, o impacto será no bolso do setor produtivo, que poderá utilizar o dinheiro para reinjetar na economia. Ele pode optar por novos investimentos em equipamentos, contratações ou modernização ou então gastá-lo em comércio e serviços. É um efeito comum a toda sociedade paranaense que roda pelas estradas do Anel de Integração. “A economia do Paraná vai ter a disposição dela R$ 2,4 bilhões, que é o valor somado arrecadado por todas as concessionárias em um ano. O Paraná tem 12 milhões de habitantes. Se dividir por famílias de quatro membros, são cerca três milhões famílias. Se você dividir isso, dá R$ 800 por família. É como se cada família paranaense tivesse esse valor p [da ara colocar na economia paranaense”, calcula.
Pedágio voltará, mas com custo menor para o setor produtivo
A não cobrança de pedágio na maior parte das estradas do Paraná deve se estender por boa parte de 2022. É que o leilão que definirá as novas concessões é esperado para apenas o fim do ano que vem. Com a nova privatização, as cancelas voltarão a operar. Mas, na opinião do gerente da Fiep, com valores bem mais brandos do que os atualmente cobrados.
“No novo modelo de pedágio a expectativa é que a gente tenha uma redução no preço de pedágio de 50%. O preço já vai à leilão cerca de 33% mais barato do que o atualmente cobrado. Hoje pagamos, em média, R$ 17 reais para cada 100 quilômetros rodados no Paraná. [A operação] Vai à leilão por R$ 11 [por quilômetro rodado]. No momento do pregão, se tivermos uma repetição dos últimos realizados no Brasil, estimamos uma redução na ordem de 20%. Ou seja, o custo [por quilômetro rodado] pode cair para menos de R$ 9. Aquela arrecadação de R$ 2,4 bilhões [que ia para os pedágios] vai baixar para cerca R$ 1,2 bilhão. O resto ficará na economia para sempre”, defende.
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