A madrugada deste domingo (7) começou com novo enfrentamento entre manifestantes e forças de segurança no Paraguai, após uma tentativa de forçar a entrada da residência presidencial, a Mburuvicha Róga, em Assunção. Oito manifestantes foram presos.
Ao longo da noite, as ruas da capital voltaram a se encher de manifestantes que, de modo pacífico, em maioria, reclamavam da atuação do presidente Mario Abdo Benítez no enfrentamento da pandemia de coronavírus.
Eles reivindicam mais insumos, leitos de hospitais e vacinas contra a Covid-19 -nos cartazes, questionavam também das restrições impostas pelo governo: "ficamos trancados por nada".
Desde a noite de sexta-feira (5), protestos pedem a renúncia do mandatário de centro-direita, aliado do presidente Jair Bolsonaro no Mercosul.
Na primeira fase da pandemia, o Paraguai conseguiu manter baixos os níveis de contaminação com medidas de quarentena severas, mas a chegada de novas variantes, inclusive a brasileira, tem aumentado o número de infecções e pressionado o sistema de saúde.
A crise na saúde já havia causado, na semana passada, o afastamento do ministro Julio Mazzoleni.
Depois de passar praticamente todo o sábado (6) reunido com ministros e apoiadores, Abdo Benítez fez um pronunciamento pedindo união e respeito aos protocolos de segurança, ao mesmo tempo em que avisou que, nos próximos dias, seriam anunciadas mudanças em seu gabinete.
Horas depois, anunciou a primeira parte da reforma ministerial. O nome mais aguardado era o do novo ministro da Saúde, que será o cardiologista Julio Borba, que assume com a missão de conseguir mais contratos de vacinas. Também saíram o ministro da Educação e a da Mulher, além do chefe de gabinete, Juan Ernes Villamayor.
O presidente busca evitar um julgamento político, que no Paraguai é muito parecido com o "impeachment" do Brasil, mas pode ocorrer de modo muito mais rápido se há maioria.
Por enquanto, seu partido, o Colorado, está rachado entre um grupo menor, que é leal ao presidente, e um grupo mais numeroso de parlamentares da corrente Honor Colorado, aliada ao ex-presidente Horacio Cartes. Foi a Honor Colorado que apoiou Abdo Benítez em 2018 e garantiu que ele não caísse após um escândalo relacionado à empresa binacional Itaipu.
Por enquanto, Abdo Benítez conta com o apoio do Honor Colorado, mas outros partidos da oposição pedem que, na segunda-feira (8) se debata o julgamento político.
O fato de as manifestações de rua estarem intensas pode levar Cartes a mudar de ideia.
GEnquanto a noite de sexta-feira foi mais violenta, com 21 feridos e um morto, a de sábado não registrou maiores problemas, embora tenha havido grande presença popular nas ruas.
A polícia havia afirmado que o manifestante morto, de 32 anos, tinha sido atingido por arma branca e que poderia ter sido vítima de assalto. Mas o jornal Última Hora publicou um boletim médico que relata feridas de balas de borracha no tórax do homem.
Abdo Benítez disse, em sua mensagem gravada, aceitar e escutar as manifestações pacíficas, mas se posicionou contra os mais violentos. O ministro do Interior, Arnaldo Giuzzio, afirmou que havia um grupo de infiltrados, cuja finalidade era vandalizar e comprometer o governo, ferindo cidadãos.
"O relatório que recebemos mostra que havia um pequeno grupo saltando e gritando e que, depois de uma ordem, começou a atuar de modo violento. O resto da manifestação era absolutamente pacífica", afirmou Giuzzio.
Líderes opositores afirmaram que apresentarão, nesta segunda (8), um pedido de julgamento político de Abdo Benítez. "Ele precisa ir embora, o presidente e o vice. Estamos reunidos para investigar o que vem acontecendo. Pagamos por vacinas que nunca chegaram à população", disse Efraín Alegre, do partido liberal.
Carlos Fillizola, da esquerdista Frente Guazú, afirmou que é preciso garantir que os manifestantes "se expressem livremente", e pediu que a população continue se mobilizando "para pressionar a saída de Abdo Benítez e Hugo Velázquez", referindo-se também ao vice-presidente.